O relato de uma candidata que sempre faz 39 pontos na 1ª fase: "Sou uma colecionadora de fracassos!"

Quinta, 17 de março de 2016

Recebi essa mensagem ontem, e ela merece uma boa reflexão da nossa parte.

Leiam:

Bom dia Mauricio tudo bem?

Venho nesse e-mail relatar o meu fracasso!

Para quem ler pode ser um exagero, mas é assim que me sinto.

Iniciei o curso de direito em 2007, não sabia muito bem o que queria, mas era o sonho do meu pai e para quem não sabia o que fazer da vida, direito é o leque de opções.

Meu pai fez Direito e  Administração, passou em um concurso e teve a vida feita, ele sempre falou que direito é um curso que todos deveriam fazer.

Durante a faculdade cada ano fazia estagio em algum lugar para conhecer as áreas e saber onde me identificava mais, no fim decidi que queria e quero ser delegada Federal.

Ouvi falar da OAB apenas no ultimo ano do curso, com meus professores dizendo ser uma prova fácil / sossegada.

A minha batalha com a OAB começou apos a entrega do TCC. Comecei cursinho, a primeira prova que prestei fiquei com 35 e depois dessa colecionei VARIOSSSSS 39!!!! (você já pode imaginar quantos foram)

Teve uma época que cheguei a fazer segunda fase confiando nos cursinhos e nas anulações, mas não anulavam ou quando anulavam não servia para mim.

Tambem já prestei a OAB em cidades diferentes para não encontrar os amigos que hoje, são fiscais da prova. Já prestei sem contar para ninguém, afinal meu nervosismo era tanto que não sabia mais o que fazer.

Ja prestei a prova recém operada. SIM!! eu já tive problemas sérios de saúde por causa dessa prova!

Já fiquei 1 ano sem prestar, depois prestei de novo e fiquei com 39, anularam 2 questões e eu tinha acertado.

Resumo dessa opera, como me sinto???? AZARADA! FRACASSADA! e BURRA!

Nem preciso mencionar sobre a pressão familiar???? Meu pai ficou doente no meu penúltimo ano, ele perdeu a fala e os movimentos, hoje ele esta bem debilitado e de cama, ajudo minha mãe e minhas irmas a cuidar dele. Esses últimos anos foram muitooo difíceis e com tudo isso eu me sinto na obrigação de dar esse presente para o meu pai, eu PRECISO DA OAB!!!!

Hoje o tempo esta passando e estou ficando para traz meus amigos, parentes e conhecidos, onde estão????

Bom..

- Aqueles amigos que nunca entravam na aula, hoje são advogados!

- Aquelas "amigas" que diziam que não estudavam nada, estão advogando!

- Aquela prima distante passou de primeira na OAB!

- Aquele cunhado é advogado e advoga em um grande escritório em SP!

E olha que tenho amigos que dizem que passaram na OAB por sorte!! Não por estudo. E eu como nunca ganhei uma rifa no quarterão da minha casa!!! Imagina o tamanho do azar e passar na OAB por SORTE rsrs!

QUE VERGONHA!!!

Hoje vou voltar a prestar a OAB. E para minha sorte ou azar vou estudar o novo CPC e as mudanças no Código de Ética.Voltei a estudar não para tirar 39, mas sim 50!!!

Vou traçar a estrategia, não falar para ninguém que vou prestar, presto em outra cidade, mas que venha o XX Exame!

Foi muito difícil escrever esse pequeno texto, mas me deu um alivio, forca e garra para enfrente essa prova!

Obrigada por toda ajuda e apoio!

Qual é a diferença, em termos de conhecimentos, entre quem faz 39 pontos, e é reprovado, e aquele candidato que faz 40 e é aprovado?

Ínfima? Nenhuma?

Algo assim...

Mas em termos práticos, dentro da lógica do Exame da OAB, a diferença é imensa!

Um abismo...

Lembro-me que no Exame de Ordem 2010.3 foi possível, pela 1ª vez, por conta de algumas liminares, projetar o percentual de candidatos que ficavam entre os 45 a 49 pontos na 1ª fase: 23%

Claro! Agora o número de questões caiu de 100 para 80, mas o percentual, ao menos em princípio, deve permanecer o mesmo.

Ali, na boca do caixa, na beira da praia, no limiar da aprovação.

Acompanho esse drama faz um tempão e creiam-me, o candidato que tira 39 pontos na prova fica TENSO!

Muito tenso.

Como minimizar as possibilidades de se tirar menos de 40 pontos?

Sim, minimizar, pois não existe macete para se tirar 40 pontos. Para isso existe uma coisa chamada estudo.

Todos vocês estão estudando bastante. Uns vão fazer bem mais de 40 pontos, outros vão passar raspando, aproximadamente 23% ficará na faixa dos 35/39 pontos e o resto ficará aquém disso.

Entretanto, muitos candidatos, por distrações, erros simples, cometem pequenas falhas, e essas pequenas falhas cobram um preço muito alto, jogando um candidato que poderia perfeitamente fazer 40 pontos para a faixa dos 35/39.

E nós não queremos isso!!!

Então, quais medidas podem ser tomadas para evitar essa pequena grande tragédia? Vamos lá!

1 - Atenção no preenchimento da folha de respostas

A prova de vocês, tecnicamente, tem 5 horas de duração.

Tecnicamente...

Na pratica, vocês terão 4 horas e 20 minutos de prova. Os 40 minutos restantes deverão ser dedicados a transposição das assertivas respondidas para a folha de respostas.

E por que 40 minutos? Exatamente para a transposição ser feita com calma e atenção. Se vocês deixarem para fazer isso nos últimos 20 minutos, vão sentir uma pressão imensa e podem incorrer em uma falha grave: passar uma resposta de forma errada da prova para a folha, e esse erro pode custar sua aprovação.

Isso acontece DI-RE-TO!

Quando faltar 40 minutos parem onde estiverem e façam a transposição com calma e atenção. Se vocês terminarem antes dos 40 minutos se esgotarem, ótimo, voltem para a prova caso falte responder algumas questões. Pelo menos vocês garantem aquelas já respondidas.

2 - Em caso de chute, fique com a 1ª escolha

Não tem jeito. Ao fim de toda prova muitos candidatos entram em desespero, pois, entre duas questões, optaram por uma e, na hora de transpor para a folha de resposta, resolveram trocar pela outra.

E geralmente acabam trocando a certa pela errada.

É impressionante como essa troca de uma alternativa por outro gera lamento entre os candidatos.

Vamos ser sinceros: o chute existe e a grande maioria dos candidatos utiliza essa "técnica":

Durante a resolução de questões de provas passadas, vocês já devem ter percebido que das 4 alternativas, 2 fazem sentido e 2 são meio esquisitas. Essas duas são sempre, de plano, descartadas. Restam as duas que fazem sentido.

Qual delas optar, quando a dúvida entre a certa e a errada for insuperável?

Inexiste uma razão científica, creio eu, para explicar o porquê dessa troca da 1ª escolha por outra questão acabar por levar o candidato ao erro. Não faço a menor ideia das razões para tal fenômeno.

Mas pelo volume de queixas que já ouvi desde que acompanho essa prova, sei, por motivos empíricos, da existência desse fenômeno.

MUITOS candidatos reclamam da troca de questões. Muitos...

Essa é uma dica desprovida, confesso, de uma razão lógica para ser observada, mas, sinceramente, compensa observá-la:

"Quando o candidato estiver em dúvida numa questão, deve optar sempre por sua 1ª escolha."

O risco do erro sempre existe, mas a ideia aqui é minimizá-lo.

3 - Atenção aos comandos das questões

Eis o calcanhar de Aquiles dos candidatos: a perda do foco e a desatenção.

E, por consequência, a perda da capacidade da inteira compreensão do enunciado. E nesse momento a probabilidade de erro cresce exponencialmente...

Eis o problema: o candidato sabe a resposta, mas por uma falha na cognição do enunciado, ele erra.

Saber e errar dói...dói imensamente quando a nota fica próxima aos 40 pontos.

Vejam o trecho de um enunciado para ilustrar bem o que estou falando:

"Questão 2

(...) Em um dos dias em que atuava profissionalmente, viu-se interpelado por um dos chefes de seção, que questionou sua permanência no local, proibida por atos regulamentares. Diante disso, é correto afirmar que (...)"

Praticamente 80% das questões têm em seu final um "é correto afirmar". Até aí nada de fantástico: o sentido final da pergunta fica claro. O problema reside na probabilidade de vir, perdido no meio da prova, um "é incorreto afirmar", ou escolha a alternativa incorreta.

O risco existe, e o candidato, vindo em uma toada de "é correto afirmar", pode, por desatenção, ser surpreendido.

E a desatenção pode decorrer, principalmente nas provas da FGV, dos enunciados extensos. Vejam um exemplo:

""O sindicato dos empregados de empresa de transporte e o sindicato das empresas de transporte firmaram convenção coletiva, na qual foi estipulado aviso prévio de 60 dias por tempo de serviço, no caso de dispensa sem justa causa. Dois meses depois de esse instrumento normativo estar em vigor, o motorista Sílvio de Albuquerque foi despedido imotivadamente pela Transportadora Carga Pesada Ltda. Em virtude de não ter a CTPS assinada e de não terem sido pagas suas verbas rescisórias, Sílvio ajuizou ação trabalhista, pleiteando o reconhecimento do vínculo de emprego, assim como o pagamento das verbas rescisórias, observando-se o aviso prévio de 60 dias, bem como a projeção de 2/12 nas suas férias proporcionais, 13º proporcional e FGTS, além da contagem desse período no registro do termo final do contrato em sua CTPS. Em contestação, a transportadora impugnou a pretensão de Sílvio, sob o argumento de que ele era autônomo e, ainda que não o fosse, o instituto do aviso prévio, tal como previsto no art. 7º, XXI, da CRFB, é de trinta dias, inexistindo lei que o regulamente. Argumentou, ainda, que convenção coletiva não é lei em sentido formal e que, portanto, seria inválida a regulamentação da Constituição por meio da autonomia coletiva sindical. Com base na situação acima descrita, é correto afirmar que Sílvio

(A) não faz jus ao aviso prévio de 60 dias, uma vez que o art. 7º, XXI, da CRFB é norma de eficácia limitada, inexistindo lei que a regulamente.

(B) faz jus ao aviso prévio de 60 dias, uma vez que o art. 7º, XXI, da CRFB não é empecilho para a ampliação do período de 30 dias por meio de norma coletiva.

(C) não faz jus ao aviso prévio de 60 dias, uma vez que não teve a CTPS assinada.

(D) faz jus ao aviso prévio de 60 dias, uma vez que era trabalhador autônomo.""

É importantíssimo ter plena consciência do sentido do enunciado para evitar ser surpreendido por um jogo de palavras inúteis.

Vejam que a questão está repleta de palavras absolutamente inúteis para o raciocínio e para o oferecimento da resposta correta. Trata-se de uma questão problematizadora, na qual não basta só o candidato conhecer o conceito como também deve utilizar o raciocínio paa adequar a solução correta ao enunciado proposto. Neste caso, é preciso ir um pouco além de meramente ter em mente, decorado, o conteúdo legal: é preciso raciocinar em face do problema, e o problema, praticamente, não oferece quase nada para ajudar na escolha da resposta correta.

O interessante é ter de raciocinar para perceber que quase nada é útil na hora de se escolher a resposta.

Não é um jeito adequado e nem honesto de se avaliar a capacidade de uma futuro advogado. Mas essa é a prova.

Durante a leitura vocês precisam separar o joio do trigo: delimitar quais informações são relevantes para a escolha da assertiva correta.

E detalhe: uma prova com tantos enunciados extensos foi pensada, EXATAMENTE, para cansá-los e vencê-los pela exaustão mental.

O pessoal da FGV certamente conhece os efeitos do cansaço (e do stress) sobre a capacidade cognitiva dos candidatos.

Não há como fugir disso.

Eis então a importância do foco: ler os enunciados com calma para apreender o exato sentido da pergunta, fugindo das armadilhas do texto e encontrando de fato a solução adequada ao problema.

É isso pessoal.

De tudo que escrevi acima, a atenção, com certeza, é o elemento mais importante na hora da resolução da prova.

Dá para fazer a prova inteira sem atropelos. Um pouco mais de atenção garante um "up" na hora da verdade!

Leiam, sublinhem trechos do enunciado relevantes para a compreensão do problema e compreendam o que é pedido.

Esse é o caminho!