Lições da pior OAB para quem vai fazer a prova no futuro

Terça, 22 de junho de 2021

Lições da pior OAB para quem vai fazer a prova no futuro

A análise de um fato ou circunstância ocorre melhor sob duas condições: você ter presenciado o fato e se ter permitido um distanciamento temporal longo o suficiente para registrar suas impressões sem se contaminar pelas emoções.

Essa hora chegou.

Acompanho o Exame de Ordem desde antes da unificação e tenho lembrança (e participação direta) em praticamente todos os seus episódios polêmicos.

Em termos de percepção, afirmo, essa foi a prova que mais impressionou por sua dificuldade, superando o que aconteceu no IX, XXI e XXIII Exame, traumáticos por si mesmos em função do rigor que impuseram aos examinandos ao seu tempo.

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Por vezes pode parecer que o Exame é sempre ruim (sempre a próxima prova é a pior) mas é exatamente isto que ocorre: a sofisticação da prova vem crescendo edição após edição, ano após ano.

E agora, durante a pandemia, superou mais uma vez seus próprios referenciais de dificuldade, em uma inexorável gradação.

Sob o prisma subjetivo, o da opinião própria, esta foi a pior prova.

No dia 02/07,quando da divulgação do resultado preliminar da 1ª fase, saberemos como a prova foi em termos estatísticos. O que é importante, pois os números não mentem.

Quanto à prova em si, faço pontualmente algumas leituras e tiro certas lições, para que ninguém seja surpreendido no futuro.

1 - O Exame de Ordem se importa sim com a quantidade de inscritos

Premissa simples: quanto mais candidatos, pior a prova.

O argumento que a prova é linear e visa apenas avaliar condições mínimas para o exercício da advocacia não se sustenta quando sua dificuldade é modulada para fazer frente a um grande número de candidatos.

O recorde de inscritos (220 mil) gerou uma prova medonha.

Não se trata de uma observação nova. Desde 2011, no mínimo, digo a mesma coisa.

A prova é instrumento de controle. E isso é demonstrável estatisticamente.

2 - A próxima prova tende a ser tão complicada quanto a última

Se o critério para dificultar a prova é resultado de uma grande quantidade de candidatos, então a próxima prova não será fácil.

Cerca de 20 mil candidatos não fizeram a primeira fase. Se tivemos 25% de aprovação nesta prova (em uma visão otimista) então restarão mais 150 mil candidatos para a próxima prova.

Só daí já partimos de 170 mil examinandos, sem contar os novos inscritos e os candidatos da repescagem que não lograrem sucesso na próxima 2ª fase.

Sim! Teremos muitos inscritos na próxima prova. E, muito provavelmente, a FGV manterá o padrão do Exame.

3 - Preparação "meia boca" não tem mais espaço na prova

Muitas questões, mas muitas mesmo, estavam em um nível assemelhado a de concursos públicos. Foi uma prova muito difícil, com enunciados bem intricados e temas não usuais.

Os candidatos tiveram muito dificuldade com a prova, pois seu nível subiu consideravelmente.

E foi bem diferente quando tivemos, por exemplo, o XXIII Exame. Naquela oportunidade eu disse que o grau de dificuldade havia subido um degrau, e isso era nítido. Agora o nível da prova subiu dois degraus de uma só vez.

O impacto foi muito forte pois a diferença havia sido muito significativa se comparada com a prova anterior, o XXXI.

Interpretação e raciocínio foram muito exigidos, em um grau inédito, e resolver questões dessa natureza demanda um bom preparo.

Métodos de estudo focados só na resolução de questões comentadas, por exemplo, não têm mais espaço. Candidatos que seguiram esse padrão reprovaram em massa, pois estes métodos não permitem uma visão sistêmica do conteúdo como também priorizam mais a mnemotécnica do que um aprendizado real, em uma espécie de "aprovação por repetição". 

Como método não consegue fazer frente a uma cobrança mais aprofundada.

Estudar só por questões e lei seca, por exemplo, também naõ foi útil para os candidatos nesta última prova. Entender e contextualizar informações foi crítico para o sucesso.

A preparação tem de ser consistente, com conteúdo de qualidade, priorizando uma abordagem mais abrangente de cada disciplina.

4 - O tempo para iniciar os estudos tem de ser o maior possível

Não dá para deixar a preparação faltando pouco tempo para a prova. A última primeira fase, por sua dificuldade intríseca, mostrou que quanto menos tempo de preparação, pior. Muito pior.

No mínimo, para uma preparação consistente, o candidato precisa de uns 4 meses de estudo.

Menos do que isso é se sujeitar às dificuldades da prova.

Vejam o vídeo abaixo sobre o que foi este exame:

5 - A preparação estratégica só em caso de necessidade

Muitos candidatos escolhem as disciplinas para estudar, excluindo algumas, como parte de uma estratégia de estudo.

Isso só se justifica se o tempo até a prova for muito curto para estudar tudo (daí o chamado "estudo estratégico").

Contudo, tal como foi a prova, o ideal é começar com muita antecedência. Se isso não for possível, torna-se a única opção, mas já não é o ideal.

Não dá para ficar escolhendo o que estudar. Cada ponto conta!

Escolher o que estudar só em caso de necessidade, caso não seja possível iniciar os estudos com antecedência.

6 - Seriedade e compromisso acima de tudo

Ao iniciar a preparação, o candidato tem de assumir que está se empenhando em um grande projeto profissional.

A prova é difícil por si mesma, e para superá-la é preciso ter compromisso com o próprio propósito.

Ter disciplina é crítico para o sucesso. Sempre o foi, e agora é muito mais.

Ao iniciar uma preparação, o candidato deve ter muita seriedade de propósito.

Sem isso fica muito difícil.

Pois bem!

No dia 02/07 saberemos o que foi a prova, estatisticamente falando, podendo, a partir daí, compará-la com as demais.

Será interessante!