Faculdades substituem professores por robôs sem que alunos saibam

Segunda, 4 de maio de 2020

Faculdades substituem professores por robôs sem que alunos saibam

Professores da Laureate International Universities, rede americana de ensino superior à distância, denunciaram que as atividades dos alunos feitas através da plataforma digital da instituição passaram a ser corrigidas por um software de inteligência artificial sem que os alunos soubessem.

Um dos professores, que teve a identidade preservada, disse que os docentes foram orientados a não repassar a informação para os alunos e que deveriam responder a todas as demandas como se eles próprios fossem os corretores das atividades.

Uma espécie de manual foi enviado aos docentes pela Laureate orientando sobre o uso da ferramenta e alertando que as informações não deveriam ser repassadas aos alunos:

Outro professor explicou que a correção, feita por um sistema chamado LTI, compara as respostas com palavras-chave e atribui nota a partir da identificação com um padrão de respostas. Ele acrescenta ainda que o robô não realiza as correções de forma automática e que as notas são disponibilizadas após alguns dias para que os alunos não percebam.

As informações foram reveladas a partir da publicação de uma nota pública feita pela Rede de Educadores do Ensino Superior em Luta, assinada por outras entidades, entre elas, o Sindicato dos Professores de São Paulo (Sinpro/SP).

Vários estudantes confirmaram que nada sabiam sobre o uso das ferramentas tecnológicas para correção das avaliações e que se sentem lesados e inseguros em relação à instituição, sobretudo, por não haver transparência.

Os docentes relataram ainda que já perceberam falhas no sistema, como alunos que receberam nota dez em textos plagiados, enquanto outros que claramente tentaram redigir o trabalho sem copiar tiveram notas baixas. Uma das professoras relatou, inclusive, que um dos alunos enviou a mesma resposta em duas atividades diferentes e lhe foram atribuídas notas dez e oito.

De acordo com o Ministério da Educação (MEC), as instituições de ensino superior têm autonomia para administrar as atividades acadêmicas, desde que atendam as mínimas exigências dispostas em normas e estatutos previamente avaliados pelo MEC para fins de credenciamento e recredenciamento.

No caso de insatisfação com as normas internas e medidas administrativas da instituição, o MEC informou que não funciona como canal recursal em matéria acadêmica e orienta que os alunos que se sentirem lesados deverão procurar os canais e recursos definidos no regimento interno da própria instituição.

O MEC acrescentou ainda que poderá intervir somente nos casos que a proposta pedagógica instituída pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional não for cumprida e vier a prejudicar a qualidade do ensino ofertado, podendo reduzir vagas ou suspender o ingresso de novos alunos.

A Laureate, por sua vez, respondeu através de nota:

?Em um mundo em constante evolução, a Laureate Brasil acompanha e analisa as tendências do segmento educacional para disponibilizar à sua comunidade acadêmica o que há de mais moderno e inovador no mercado, incluindo a adoção de diversas tecnologias da informação e da comunicação, que apoiem as atividades pedagógicas e potencializem ainda mais a qualidade do ensino, como o uso de inteligência artificial. Comprometida com o propósito de transformar vidas promovendo o saber e a empregabilidade, a organização reforça que faz parte da autonomia universitária de suas instituições encontrar recursos para melhorar a aprendizagem de seus alunos, tendo o professor como parte fundamental nesse processo. Todas as decisões estão pautadas nas diretrizes do Ministério da Educação (MEC), bem como seguem em conformidade com a legislação brasileira em vigor.?

Com informações da Folha de São Paulo.