Imigrante cega que sobreviveu a terremoto no Haiti recebe a carteira da OAB

Segunda, 10 de dezembro de 2018

Imigrante cega que sobreviveu a terremoto no Haiti recebe a carteira da OAB

A emoção tomou conta do auditório da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Distrito Federal, na manhã da última sexta-feira (7). Entre os 80 profissionais que receberam a carteira de registro, as atenções se voltaram para uma mulher em especial: a imigrante haitiana Nadine Taleis, de 35 anos.

Deficiente visual, a mais nova advogada do DF chegou ao Brasil em 2013. Ela era uma das sobreviventes do terremoto que deixou mais de 250 mil mortos e detruiu a capital do país do Caribe, em 2010. Nadine perdeu quase toda família.

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Antes de morar em Brasília, a imigrante passou dois meses como refugiada no Acre. "Não foi fácil pra mim. Sai do meu país, muito pobre e onde o povo estava vivendo uma prisão por causa da violência", lembrou durante o discurso como oradora da turma.

Desacreditada e cega, ela foi rejeitada em todas as seleções para emprego. Mesmo falando francês, português, espanhol e inglês, a possibilidade de trabalho parecia distante.

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A esperança voltou a surgir quando ela conheceu um casal que hoje chama de "pai e mãe". O encontro foi por meio da filha deles, no Acre, enquanto Nadine traduzia, de forma voluntária, os documentos e currículos de outros refugiados.

Foi com o dinheiro que sua mãe brasileira lhe dava para comer e alugar uma quitinete que Nadine pagou as primeiras mensalidades do curso de Direito da Faculdade Mauá, em Vicente Pires. Logo, porém, a direção da faculdade se impressionou com a história de vida da haitiana e resolveu lhe oferecer uma bolsa integral, além de um estágio na própria instituição.

Na sexta, em meio a 71 novas advogadas e advogados, Nadine veio à Seccional prestar compromisso e receber sua Carteira da Ordem. Como oradora da Turma, ela destacou a importância deste momento em sua trajetória.

?Hoje estamos aqui prestando compromisso para representar não apenas o cliente, mas a lei, porque somos responsáveis pela administração da justiça. O direito é uma paixão e sei que por meio dele todos nós vamos chegar longe. Não posso deixar de falar dos meus amigos e amigas, pessoas com deficiência, em que não precisamos que nada nos seja dado, mas nos seja permitido lutar e ocuparem os espaços que também devem ser nossos.?

Nadine Taleis se descreve como uma sobrevivente. Ela estava em Porto Príncipe, capital do Haiti, quando a região foi atingida por um terremoto que deixou 250 mil pessoas mortas, em 2010.

A motivação para nunca não desistir, conta, vem das lembranças da vida no Haiti. Nadine quer se especializar em direito tributário internacional e, no futuro, se tornar juíza. Mas agora, a meta é conseguir um emprego e ajudar outros imigrantes e pessoas com deficiência visual.

"Quero conseguir uma vaga em um escritório de advocacia para me manter no Brasil. Preciso continuar o meu sonho de defender a lei e os meus clientes."

Com informações do G1 e da OAB/DF.