Um "Exame de Ordem" para médicos? Lamento, mas isto não vai mais acontecer...

Terça, 11 de março de 2014

estetoscopio

Deu mais cedo no UOL:

Presidente de associação médica defende exame para recém-formados

Para alcançar a qualidade no ensino de Medicina, os estudantes deveriam sair da faculdade e realizar o Revalida. A opinião é do presidente da Associação Médica Brasileira (AMB), Florentino Cardoso, convidado desta segunda-feira (10) do programa Roda Viva, apresentado ao vivo na TV Cultura e reproduzido pelo UOL. Atualmente, o exame só é aplicado aos médicos formados no exterior que desejam trabalhar no país.

Segundo Cardoso, o exame ajudaria a filtrar os médicos formados no Brasil, já que eles vão lidar com a saúde da população. "É preciso ter uma boa quantidade de médicos, mas de boa qualidade, é isso que a gente quer", defende Cardoso.

Na opinião do presidente da AMB, o governo tem um papel decisivo para melhorar a qualidade do ensino nas faculdades, não só com um exame, mas também com uma avaliação criteriosa das faculdades. "O Enade (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes) avalia as faculdades com base no desempenho dos estudantes, corpo docente, estrutura e outros itens, mas não acontece nada com que tem uma nota ruim", aponta. O cirurgião geral e oncologista sugere, ainda, que a grade curricular seja direcionada à necessidade do povo brasileiro. (...)

Fonte:

Eu acompanho essa questão da implantação do exame de proficiência para médicos já tem algum tempo, e posso afirmar com muita segurança que a classe médica simplesmente deixou o Governo Federal, literalmente, acabar com a chance de criar um exame para a categoria.

Por quê?

Antes do "Mais Médicos", excetuando o Cremesp (Conselho de Medicina de São Paulo), a classe médica no geral NÃO queria um exame de proficiência. Sempre foram contra.

Vejam só essas notícias de ANTES da implementação do Mais Médicos:

Conselhos de Medicina não querem um Exame semelhante ao da OAB

Estudantes de medicina e sindicato elaborarão carta contra exame de ordem para médicos

Exame reprova quase metade dos estudantes de medicina de SP

Estudantes de medicina discutem com deputado PL de exame de ordem

Ou seja: o corporativismo falou mais alto e uma visão limitada da realidade impediu que o debate sobre a criação de um exame fosse adiante, nos mesmos moldes do Exame de Ordem.

Aí veio o "Mais Médicos", cuja prova de seleção é tacanha, ameaçando exatamente o mercado profissional dos médicos nativos.

Existia algum processo seletivo sério para filtrar os profissionais? Não!

O "Mais Médicos" não passa de uma solução eleitoreira para um problema sistêmico: o péssimo investimento na saúde (como também é na educação, nos transportes e assim vai...) e nenhum tipo de processo seletivo sério foi levantado para evitar essa "invasão estrangeira:

Aliás, só um candidato reprovou nesta prova....

A classe médica perdeu a oportunidade de criar um exame de classe no INTERESSE DA SOCIEDADE em nome do corporativismo, e agora vêm com o argumento de que um exame precisa ser implantado.

Logo agora?

Sim, a necessidade continua, mas não vai acontecer sob a égide do atual governo, que tem uma visão própria de como deve ser o atendimento à população, e criar um mecanismo de restrição agora, em ano eleitoral, é algo impensável!

Ah! E avisem ao presidente da Associação Médica Brasileira que um Exame, nos moldes do Exame de Ordem, não vai mudar em NADA a qualidade do ensino superior em medicina, assim como o Exame da OAB não influi na qualidade do ensino jurídico.

A qualidade é determinada pela mão leve do MEC na abertura de novas faculdades e leniência na fiscalização. ensino superior no Brasil é, antes de qualquer outra coisa, business, e o empresariado da educação não quer nem ouvir falar em limitações a uma ampla oferta de vagas, mesmo que elas sejam preenchidas por quem não tem condições de cursar a faculdade.

O que importa, de verdade, é se o aluno tem condição de pagar!

O resto é detalhe!

Logo, é bem provável que a "invasão estrangeira" continue, que o mercado profissional seja cada vez mais dividido entre médicos estrangeiros e nativos (o que no longo prazo gera redução das faixas salariais, por saturação (excesso de oferta)) e que os Conselhos de Medicina fiquem impotentes diante do quadro, da mesma forma que foram TRATORIZADOS pelo Governo Dilma quando tentaram impedir a implantação do "Mais Médicos".

E sim! Tal como o Brasil hoje tem o maior número de faculdades de Direito no mundo, curiosamente medicina também tem!

No longo prazo isso não vai dar certo...

Os jovens advogados que estão ganhando R$ 20,00 por audiência sabem bem do que eu estou falando...