Resolvendo a prova da OAB no tempo certo

Quinta, 2 de março de 2017

Resolvendo a prova da OAB no tempo certo

A prova da OAB tem um tempo certo de duração: 5 horas. Nesse intervalo de tempo o candidato define o seu destino no certame, carimbando o passaporte para a 2ª fase ou pegando a passagem para a próxima edição.

O tempo, portanto, rege o futuro do candidato, e aproveitá-lo bem é fundamental para a aprovação.

Por uma série de razões, contudo, as 5 horas parecem não ser suficientes para uma boa quantidade de candidatos. Não é raro vermos examinandos se complicarem e deixarem de responder, ou responder muito mal, todas as questões.

Isso, curiosamente, não deveria acontecer mais, principalmente após a redução do número de questões de 100 para 80.

Claro! Foi uma redução para "inglês ver". Na prática a redução do número de questões, à época efetivada sob o argumento de se dar mais tempo aos candidatos, não alterou em nada neste ponto. Os enunciados das questões passaram a crescer de forma substancial, anulando a redução e até mesmo tornando a gestão do tempo pior se comparada com o tempo das 100 questões.

Ou seja: se o Exame apresenta uma facilidade, ele compensa o "presente" de alguma outra forma para manter o equilíbrio da prova.

De uma forma ou de outra, a prova é hoje o que é e vocês precisam lidar com isto.

Aí vem a pergunta: como lidar com as questões e concluir a prova de forma satisfatória usando as 5 horas disponíveis?

Já vi algumas dicas a esse respeito, como por exemplo, cronometrar o tempo gasto em cada questão, mas isso não tem como ser implementado na prática, pois não só os candidatos não podem usar relógios durante a prova como também não faz muito sentido compartimentalizar o tempo de forma estanque considerando os diferentes enunciados e as diferentes disciplinas da 1ª fase.

Primeiro, claro, tempo de tratar do peso de cada disciplina e a forma como elas são apresentadas na prova:

Ordem disciplinas oab

Essa ordem de apresentação e o número de questões por disciplina são rígidos: em toda prova é sempre assim.

Chamo isso de "topografia" da prova, sendo possível localizar direitinho onde está cada disciplina e cada questão. Conhecer portanto a "topografia" é importante para lidar com a prova durante a sua aplicação.

Agora vejam como a FGV tem estruturada cada questão. O exemplo abaixo é, simplesmente, representativo de todas as questões aplicadas na prova passada em termos de extensão:

Questão problematizadora do XXI Exame de Ordem

Essa é uma questão problematizadora, ou seja, ela apresenta a narrativa de um problema hipotético e pede para o candidato apresentar a solução jurídica aplicável à hipótese.

TODAS as questões do XX e do XXI Exames foram problematizadoras! Ou seja, trata-se hoje da "tendência" da primeira fase, a forma como a FGV constrói os enunciados.

Evidentemente, esse tipo de questão demanda mais tempo e cansa mais o candidato. Essa foi a forma enxergada pela FGV para "compensar" a redução das questões de 100 para 80.

E, gostem ou não, é muitíssimo provável não vermos mais na OAB questões conceituais. Essas foram aposentadas.

Para resolver a prova é preciso INTERPRETAR. Macetes já não servem de nada na OAB.

Muito bem! Como então aproveitar ao máximo o tempo da prova e conseguir concluí-la sem deixar questões de fora?

Aplicando a Lógica de Pareto

Sob minha ótica, não é adequado resolver a prova seguindo simplesmente a ordem de questões da forma como elas são apresentadas. O ideal é resolvê-las pela ordem de AFINIDADE INTELECTUAL do candidato.

Cada candidato tem um perfil específico de preferências, e deve seguir esse perfil na hora de resolver a prova. Trata-se de observar a lógica do Princípio de Pareto (também chamado de princípio do 80/20), no sentido de otimizar recursos e buscar eficiência.

Vilfredo Pareto foi o criador da ideia de que geralmente 20% dos esforços são responsáveis por 80% de resultados.

Vejam alguns exemplos desta lógica retirados da Wikipédia:

a) Uma livraria não pode ter todos os títulos do mercado, portanto ela aplica a regra de Pareto e foca em 20% dos títulos que geram 80% da receita.

b) A maioria dos acidentes de carro ocorre em um número relativamente pequeno de cruzamentos, na faixa da esquerda em determinada hora do dia.

c) A maioria dos acidentes fatais ocorre com jovens.

d) Em vendas comissionadas, 20% dos vendedores ganharão mais de 80% das comissões.

e) Estudos mostram que 20% dos clientes respondem por mais de 80% dos lucros de qualquer negócio.

f) Menos de 20% das celebridades dominam mais de 80% da mídia, enquanto mais de 80% dos livros mais vendidos são de 20% dos autores.

g) Mais de 80% das descobertas científicas são realizadas por 20% dos cientistas. Em cada época, são uns poucos especialistas celebres que fazem a maioria delas.

Qual seria a aplicação prática disto na prova?

Com o cérebro descansado, o candidato ao atacar as questões mais fáceis fará um esforço muito menor se compararmos com o método de resolver as questões seguindo a sequência da prova.

Em suma: menos esforço para produzir um melhor desempenho, seguindo, exatamente, a lógica de Pareto.

A lógica de Pareto inclusive guarda uma correlação com a questão da memória profunda no nosso caso.

Por exemplo: pergunte para qualquer pessoa o seu nome. Ela responderá. Agora imagine o esforço neural para produzir a resposta: quase nenhum. Isso porque o nome está profundamente gravado na memória, ou melhor dizendo, o circuito de sinapses envolvidos na memorização do conteúdo "nome" está altamente consolidado.

Essa lógica se aplica às disciplinas da prova.

Em algumas, as disciplinas ditas prediletas, os circuitos de sinapses estão mais consolidados e o esforço para resgatar a informação na hora em que uma pergunta da prova a exige é bem menor.

Ao contrário, nas disciplinas em que o examinando tem menos familiaridade ou maior dificuldade, o esforço para resgatar a informação é muito mais intenso, aumentando o desgaste em sua busca e gerando um maior cansaço mental. Seria a inversão do princípio de Pareto: 80% do esforço para a obtenção de apenas 20% do resultado.

Nada animador...

Isso seguramente impacta diretamente no desempenho do candidato e em sua nota final.

Imaginem o esforço de um cérebro cansado quando for trabalhar as questões em que domina melhor APÓS ter se desgastado com questões mais complexas. Quantos candidatos já não reprovaram por não adotar uma estratégia ou adotar uma equivocada? E são penalizados sem sequer ao menos entender as razões de suas reprovações.

"Ah, mas eu estudei tanto", dizem inúmeros e inúmeros examinandos, "não entendo por que reprovei". Há uma explicação para isto.

Logicamente que isto é aplicável aos candidatos limítrofes, em que o conteúdo de todas as disciplinas está apreendido para ao final assegurar uma pontuação na faixa dos 37 a 42 pontos.

Para quem não sabe, algo em torno dos 21 a 24% dos candidatos reprovam na faixa dos 37 a 39 pontos. Seguir a ordem de resolução de disciplinas por eleição, da mais fácil para a mais difícil, pode ajudar a jogar a nota do candidato para a faixa dos 40 pontos ou mais.

Interessante, não é?

Claro! O candidato muito preparado pode ignorar essa lógica. A informação está sedimentada de tal forma em uma memória que o esforço cognitivo é drasticamente reduzido: a ordem de resolução é indiferente.

Entretanto, para isto, o candidato tem de se sentir muito preparado e efetivamente estar. Na dúvida, siga a ordem por predileção.

Atacando primeiro as disciplinas de preferência, com o cérebro descansado, o desempenho será otimizado e as questões serão resolvidas com maior velocidade e menor desgaste. Na medida em que as disciplinas mais difíceis forem surgindo, o ânimo do candidato para enfrentá-las será maior comparativamente com uma resolução aleatória, ou, principalmente, no caso de se optar primeiro pelas disciplinas mais difíceis.

Quando o candidato for enfrentar as disciplinas mais difíceis, terá sofrido um desgaste menor, já tendo resolvido parte da prova; exatamente aquela melhor dominada. Logo, a preocupação em atingir os 40 pontos será menor, gerando menos ansiedade com o desempenho no transcorrer das horas.

Ao resolver as mais fáceis primeiro, o candidato tem a percepção de que está indo bem na prova, gerando um considerável impacto tranquilizador do emocional e da confiança. Tal impacto é muitíssimo desejável.

Ou seja: a gestão do tempo durante a prova guarda correlação com a adoção de uma estratégia de resolução da prova. Como falta um mês para a próxima prova, a estratégia pode ser trabalhada com muita antecedência, e o candidato poderá avaliar qual é o melhor caminho para si.

Essa é uma dica importante: avaliem por vocês mesmos qual a melhor estratégia. A metodologia aqui declinada precisa ser VALIDADE por experimentações empíricas, seguindo exatamente a mesma lógica usadas por cientistas para validar uma teoria.

É a mesma coisa.

Eu tenho a certeza que a equação para se conseguir resolver todas as questões dentro das 5 horas será encontrada seguindo essa metodologia.